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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Paisagem Caleidoscópica


No momento estou mergulhada em Moça, Interrompida. Mergulhando de cabeça, fora do meu horário habitual de leitura, que costuma ser de 00:00 em diante. Comecei a escrever este post depois de uma breve leitura às 4:30. Detalhes a parte, o diário de bordo do Hospital Mclean de Susanna Kaysen está me encantando e esclarecendo muitas coisas. É preferível que eu cite uns trechos da obra e comente o que a mim for possível em seguida...: 

Na verdade eu só queria matar uma parte de mim: a parte que queria se matar, que me arrastava para o dilema do suicídio e transformava cada janela, cada utensílio de cozinha e cada estação de metrô no ensaio de uma tragédia.  página 37

A questão da tentativa e não do ato finalizado é compreensível.  A autora relata pouco adiante que alguma coisa havia morrido dentro dela, e é mais ou menos isso que se busca no suicídio...não a morte em si, mas uma expurgação.

Eu estava tendo um problema com padronagens. Tapetes orientais, pisos de cerâmica, cortinas estampadas, coisas desse tipo. Pior de tudo eram os supermercados, com seus corredores lembrando tabuleiros de xadrez compridos e hipnóticos. Quando olhava para essas coisas, eu via outras coisas dentro delas. Pode parecer que eu sofria de alucinações, mas não era o caso.  Eu sabia que estava olhando para um piso ou para uma cortina. Mas suas padronagens pareciam conter representações em potencial que, em estonteante sequência, ganhava uma vida breve e fugidia.  página 40

Kaysen questiona se todos tem essa percepção da realidade e apenas os chamados 'loucos' exprimem suas visões 'distorcidas' sem medo. Como ela diz depois: '...embora as visões fugazes do que poderia ser me deixassem exausta. A realidade estava se tornando demasiado densa'.
Exagero subindo à cabeça, mas ao ler esse trecho me veio na mente a possibilidade de Platão ter sofrido do mesmo mal quando pensou sobre ' A Caverna'; rsrs. Pessoas questionadoras e questionáveis possuem tal  raciocínio diante da realidade massiça que as cercam. Diversas coisas palpáveis não deixam de ser duvidosas.

Não que qualquer uma de nós fizesse algo de diferente do habitual. Continuávamos a agir como já agíamos no pavilhão. Resmungos, rosnados, choros. Daisy cutucava as pessoas. Georgina alegava não ser tão maluca quanto as outras duas.
- Vamos parar com essa atuação - dizia uma das enfermeiras. 

Atos meio que necessários para se ter certeza se estão fazendo parte da realidade ou se estão cercadas pela 'membrana'. No fundo parece uma transposição para um mundo fora dos olhos das pessoas...mundo esse de pensamentos vindos não se sabe de onde e porquê, já que não há nexo com os pensamentos já presentes no consciente naquele momento. Aliás, esse trecho acima me fez rir como nunca.

1 comentários:

She. disse...

Ler o diário de bordo de Susie Q. deve produzir uma sensação maravilhosa.ó.ò.

Você se sente fazendo parte da loucura?
Digo...
Como uma paciente? .O.O.

Sempre achei bordelaine muito interessante... e queria saber mais, pelo que to vendo o livro permite entrar mesmo na mente dela né?

Essa coisa do suicídio foi incrível, ela parece ter conceitos muito interessantes sobre dor e a morte... Perturbados..de certa forma , mas ainda assim sinceros e até maduros.

E essa distorção da realidade é muito foda, as coisas começam a ter vários significados e representar mundos inteiros, lembro que uma vez meu médico me contou duma amiga/paciente dele que teve uma crise de choro/descontrole por causa do transformador de energia que ficava no poste em frente a casa dela, ela não sabe explicar a razão, mas ele simplesmente significava alguma coisa a mais...terrível e estranha e a machucava constantemente.

É mais ou menos assim..as vezes acho que a diferença entre o hospício e o shopping Center são as lojas. Rs

Sei lá...
A loucura pode ser só um padrão mais elevado pra vida, ou a forma mais complexa e talvez inteligente de enxergar cada coisinhas.

Lindo, lindo.

Ah, é claro que meu comentário não seria pequeno. HAIUhaui.
E o post ficou ótimo.

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